Esse tipo de transplante surgiu há pouco tempo nos Estados Unidos e já realizado em alguns hospitais no Brasil. A vantagem é que pode ser feito com doador parcialmente compatível. Aumenta muito, portanto, a possibilidade de se encontrar um doador entre os parentes de primeiro grau de portadores de leucemia, linfomas, síndromes mielodisplásicas, aplasia e outras doenças.
A possibilidade de encontrar um doador de medula óssea compatível entre os familiares de primeiro grau é de 25%. Esse número aumenta para 40% quando se recorre também a um banco internacional de medula óssea. Já com a possibilidade de recorrer a um doador parcialmente compatível essa probabilidade chega a 70%, ou seja, qualquer paciente pode identificar um doador entre os irmãos, os pais ou os tios.
Como você deve se lembrar, existem três tipos de transplante de medula óssea: alogênico, autólogo e singênico. No caso do alogênico, a medula é obtida de um doador, parente de primeiro grau ou banco de medula óssea selecionado por meio de um teste conhecido como histocompatibilidade; no do autólogo, a medula óssea ou as células-tronco periféricas são retiradas do próprio paciente, armazenadas, tratadas com altas doses de quimioterapia e recolocadas nele; já no do singênico, o transplante de medula óssea é realizado entre irmãos gêmeos idênticos univitelinos.
O transplante haploidêntico é um tipo de transplante alogênico, ou seja, proveniente de um doador, no entanto com a vantagem de não precisar ser totalmente compatível para que o procedimento possa ser realizado.
Esse tipo de transplante é realizado pelo médico hematologista com especialização em transplante de medula óssea. No Brasil, atualmente, apenas 26 centros médicos estão cadastrados para realizar o transplante de medula óssea “não aparentado”, ou seja, com medula proveniente de um banco internacional. Destes 26, menos da metade já realizam o procedimento do transplante haploidêntico. O Hospital 9 de Julho, na capital paulista, é um dos que estão realizando esse tipo de procedimento.
Além de ser um procedimento novo, existe maior risco de infecções do transplante, por isso só pode ser realizado em um hospital que tenha ambulatório especializado para atender a esse tipo de paciente. Outro problema é que o transplante haploidêntico ainda é um pouco mais caro do que o de medula óssea com um doador totalmente compatível. Vale destacar que alguns centros, em São Paulo, já estão realizando o transplante haploidêntico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes jovens com linfoma de Hodgkin que foi tratado e voltou a se manifestar.
A grande descoberta para a realização do transplante haploidêntico foi o uso de ciclofosfamida – um medicamento que é empregado tanto no tratamento de lúpus eritematoso quanto no de artrites reumáticas – em altas doses depois da infusão da medula óssea. Isso reduziu a reação do paciente à medula do doador parcialmente compatível, evitando uma doença perigosa: a reação do enxerto-contra hospedeiro, que na forma severa pode até ser fatal.
O paciente recebe, previamente, baixas doses de quimioterapia e de radioterapia corporal total e, no período posterior ao transplante, dois tipos de medicamentos imunossupressores. Os resultados do transplante haploidêntico, finalmente, se assemelham aos de doadores de bancos de medula totalmente compatíveis. Conseguiu-se, portanto, ultrapassar a barreira imunológica com resultados bastante encorajadores.
* Celso Mitsushi Massumoto (CRM 48392) é diretor clínico da Oncocenter,
coordenador de transplante de medula óssea do Hospital Nove de Julho e
membro da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), na capital
paulista. E-mail: cmassumoto@yahoo.com