O diagnóstico de câncer nunca é fácil, muito menos quando o paciente é uma criança. Além dele, toda a família é envolvida muito mais no tratamento por conta das idas e vindas das quimios, médicos e toda a esperança de que o tratamento funcione e a criança possa crescer e se desenvolver naturalmente após a cura.
Mas todo o processo merece atenção, é natural e esperado que problemas emocionais surjam durante e após o término do tratamento. Alguns pontos são importantes e merecem destaque na hora de avaliarmos a questão de saúde mental, tais como: idade da criança, momento do diagnóstico e a intensidade do tratamento.
Vamos tomar como exemplo uma criança pequena, de seis ou sete anos de idade, com diagnóstico de leucemia. É esperado que a família concentre toda a sua rotina em torno do atendimento ao bem estar e felicidade da criança, para que seja um momento leve e com esperança. Após o tratamento o clima muda e as preocupações surgem, como por exemplo:
- Lidar com mudanças físicas deixadas pelo tratamento;
- Preocupações com a possibilidade de de novos problemas de saúde ou retorno da doença;
- Sentimentos de culpa, ressentimento pela doença e processo durante o tratamento;
- Preocupações com tratamentos diferenciados e discriminatórios por conta da doença, ser “privilegiado” ou causar pena nos outros, principalmente amigos e família;
- Preocupações em namorar, casar, constituir família mais tarde na vida.
É importante lembrar sempre que ninguém escolhe ter câncer, ainda mais na infância, mas muitas pessoas têm e conseguem viver bem com a experiência. A pauta de saúde mental deve entrar como parte do tratamento de cura para evitar, sim, outras doenças – principalmente de cunho psicológico como depressão, síndrome do pânico ou ansiedade.
Talvez, dependendo da idade da criança, seja bacana participar de grupos de conversa com outras crianças da mesma idade; pais que transformem a pauta em um assunto mais leve e sem tanta carga para que todos possam seguir em frente após o final do tratamento.
Se hoje temos tratamentos preventivos, procedimentos que auxiliam no combate ao câncer, também precisamos investir na perspectiva de vida do paciente na vida pós-câncer, porque esse momento também chega e precisamos aprender a lidar, como tudo na vida.