Os tratamentos oncológicos estão cada vez mais eficazes. Mesmo pacientes com doença avançada ou metastática, considerada incurável, estão vivendo cada vez mais e melhor.
No entanto, a doença e o tratamento oncológicos, em muitos casos, vêm acompanhados de sofrimento físico e emocional, os quais muitas vezes, são de difícil manejo. Nestas situações, a presença de uma equipe multiprofissional capacitada para controle desses sintomas é essencial.
É nesse contexto em que é introduzido o cuidado paliativo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares diante de uma doença que ameace a vida.
Os diversos profissionais envolvidos em um cuidado paliativo trabalham dentro das suas áreas de atuação, trocando informações e promovendo o cuidado da forma mais integral possível.
Como é realizado o cuidado paliativo?
O cuidado paliativo é realizado por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Ele deve ser feito necessariamente em equipe. No mínimo, médico, enfermeiro e psicólogo devem estar integrados prestando atendimento ao paciente e sua família; mas o fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social, terapeuta ocupacional e até educador físico podem fazer parte dessas equipes.
Por exemplo, um paciente com dificuldade de deglutição e com produção excessiva de saliva, por uma cirurgia devido a um tumor de cabeça e pescoço, pode ser avaliado por médico, fonoaudiólogo e nutricionista:
- o médico prescreverá um medicamento para auxiliar na diminuição de saliva;
- o fonoaudiólogo avaliará e indicará o tipo de consistência de alimento, a via de alimentação mais adequada;
- e o nutricionista orientará a dieta a ser seguida contemplando as necessidades nutricionais e a via de alimentação disponível.
Tudo isso considera a vontade do paciente e estágio da doença.
Quando o cuidado paliativo costuma ser realizado?
O cuidado paliativo pode ser integrado em qualquer momento do tratamento oncológico com o objetivo de otimizar a qualidade de vida e controle de sintomas.
No entanto, a sua atuação aumenta no momento em que o tratamento específico não traz o benefício esperado ou é necessária sua suspensão. Afinal, não sendo possível promover o tratamento específico da doença que traz os sintomas, é necessário o controle destes sintomas com outras estratégias, sejam medicamentosas ou não.
O desenvolvimento da medicina causou a medicalização da morte. Antigamente, pessoas idosas morriam em seus lares, rodeadas de filhos e netos. Hoje, com o advento das UTIs, não é raro que os últimos suspiros sejam dados numa cama de hospital, rodeados de tubos, agulhas e bipes. O cuidado paliativo também aborda aspectos relativos a esses cuidados de fim de vida.
A medicina ainda não detém a capacidade de cura de todas as doenças, invariavelmente iremos sucumbir à morte e o cuidado paliativo traz essa temática, considerada tabu, principalmente em nossa sociedade ocidental.
O Código de Ética Médica aborda o tema no capítulo I artigo XXII:
“Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados”.
Esse artigo tem como objetivo preservar a dignidade do paciente em seus últimos dias; tendo uma condição irreversível, pode-se omitir procedimentos que tragam sofrimento físico e psicológico (afetando a qualidade de vida do paciente) cujo o benefício seja questionável.
Por exemplo, intubação de um paciente portador de doença pulmonar grave que não poderá ser revertida com a intubação e tratamentos medicamentosos associados – nesta situação o paciente é confinado na UTI, onde o acesso de familiares é restrito e virá a óbito fazendo uso da ventilação mecânica e apesar dela. O paciente sob cuidado de uma equipe de cuidado paliativo, pode receber cuidados na enfermaria e com manejo medicamentoso adequado, ter seu sintoma aliviado, sem ser privado da presença de seus familiares.
O cuidado paliativo visa aliviar o sofrimento causado por uma doença grave e potencialmente fatal. Leva em consideração além dos sintomas físicos, aspectos psicológicos, sociais e espirituais. Prioriza uma comunicação clara com o paciente e sua família, considerando sua vontade e seus valores. Evita expor o paciente a procedimentos e intervenções que não tenham um objetivo claro em diminuir sintomas e aliviar sofrimento.